terça-feira, 25 de maio de 2010

QUATRO ARMAS PARA COMBATER A SOLIDÃO E O ABANDONO


INTRODUÇÃO

Muitas coisas podem nos fazer sentir o frio da solidão: a falta de amizades durante a infância, adolescência ou na fase adulta, mudança de cidade, perda de emprego, um namoro rompido abruptamente, um casamento em que há ressentimento ou quando o amor dado não é correspondido, um divórcio e a perda de um ente querido.

Sem dúvida, essas situações podem desencadear não só a solidão, mas também a depressão. Aprender a lidar com mudanças e situações adversas é essencial para superar os dias maus - o sentimento de abandono, perda, solidão e depressão.

Acredito que dentro desse ramo, o apóstolo Paulo é a pessoa ideal para nos apontar um caminho, pois ele mesmo afirmou em Filipenses 4.10-13 o seguinte: [...] porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. 12 Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez; 13 tudo posso naquele que me fortalece.

Assim sendo, gostaria de mostrar quatro atitudes práticas – quatro pedidos – de Paulo diante dos dias de abandono, solidão e tensão antes de ser excutado em Roma em meados do primeiro século.

Texto base: 2 Timóteo 4.9-18:
“ 9 Procura vir ter comigo depressa. 10 Porque Demas, tendo amado o presente século, me abandonou e se foi para Tessalônica; Crescente foi para a Galácia, Tito, para a Dalmácia. 11 Somente Lucas está comigo. Toma contigo Marcos e traze-o, pois me é útil para o ministério. 12 Quanto a Tíquico, mandei-o até Éfeso. 13 Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, bem como os livros, especialmente os pergaminhos. 14 Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males; o Senhor lhe dará a paga segundo as suas obras. 15 Tu, guarda-te também dele, porque resistiu fortemente às nossas palavras. 16 Na minha primeira defesa, ninguém foi a meu favor; antes, todos me abandonaram. Que isto não lhes seja posto em conta! 17 Mas o Senhor me assistiu e me revestiu de forças, para que, por meu intermédio, a pregação fosse plenamente cumprida, e todos os gentios a ouvissem; e fui libertado da boca do leão. 18 O Senhor me livrará também de toda obra maligna e me levará salvo para o seu reino celestial. A ele, glória pelos séculos dos séculos. Amém!”.

PRIMEIRO PEDIDO:
(Vs 9-11) “Procura vir ter comigo depressa. 10 Porque Demas, tendo amado o presente século, me abandonou e se foi para Tessalônica; Crescente foi para a Galácia, Tito, para a Dalmácia. 11 Somente Lucas está comigo”.

À luz deste trecho, podemos facilmente perceber que tanto Paulo quanto Lucas estavam ficando sós. Paulo, em particular, como bem caracterizou John Stott, vivenciava o seu Getsemani – preso pela segunda e às vésperas do martírio.
Então, em seu primeiro pedido, o apóstolo pede a Timóteo, “seu verdadeiro filho na fé”(1 Tm 1.2), que venha o quanto antes para estar com ele e enfatiza o seu pedido no verso 21, dizendo: “venha antes do inverno”.

Sem dúvida, Paulo sentia muito com a partida de companheiros fíes e sofria profundamente com o abandono de outros. Demas, por exemplo, é citado ao lado de Lucas em Colossenses 4.14 e em Filemom vs.24 e, agora, é listado como desertor.

Paulo era um homem consciente do seu chamado e sabia que precisava dar as últimas orientações, compartilhar algumas experiências, trazer consolo e exortações antes de partir. Por outro lado, Paulo precisava também de ser cosolado através do olhar de amigos e de boas-notícias, como bem nos ensina Provérbios 15.30: “O olhar de amigo alegra ao coração; as boas-novas fortalecem até os ossos”.

Aplicações Práticas:
1) Esta passagem evidencia o trabalho e o envolvimento incansável de Paulo mesmo na prisão.
Não existe uma justificativa que nos libere do labor da obra de Deus – nem mesmo a prisão. Veja o exemplo John Bunyan: em doze anos de prisão, escreveu um bestseller – O Peregrino.

2) Esta porção das Escrituras mostra a fragilidade do grande apóstolo Paulo, um homem que necessitava de companhia – de amigos.
Devemos sempre ter diante de nós o seguinte: “o homem nunca foi e nunca será uma ilha por mais poderoso que ele seja”; “não somos tão “espirituais” ao ponto de dizer não preciso de ninguém, pois Cristo me basta”. Desde o início não era bom que o homem vivesse só e, em seguida, Deus ordenou: “crescei e multiplicai”. De acordo com John Stott, “a amizade humana, contudo, é uma provisão amorosa de Deus” .

3) O texto mostra claramente que alguns amigos partem para uma missão e outros, por sua vez, abandonam a missão.
Devemos estar cientes de que amigos vem e vão por diferentes motivos – pelos certos e, também, pelos errados.

4) Diante do abandono ou da partida de amigos importantes, Paulo buscou auxílio de outros amigos.
Assim, não devemos nos isolar e chorar sozinhos, mas, sim nos lembrar de que ainda há outros amigos; peça para que eles o visitem, ligue para eles, mande e-mails e scraps no Orkut, etc...


SEGUNDO PEDIDO:
(Vs 11b) “Toma contigo Marcos e traze-o, pois me é útil para o ministério”.

Este é sem dúvida um pedido intrigante e ao mesmo tempo confrontador! Marcos havia sido companheiro de Paulo e o desertara há alguns anos atrás. (Atos 13.13). John Stott, ao olhar para tal episódio, nos apresenta alguns possíveis motivos para a decisão de João Marcos :

1) Estaria com saudades de sua casa espaçosa em Jerusalém.
2) Estava ressentido com o fato de a sociedade Barnabé e Saulo (Atos 13.2 e 7) ter se tornado Paulo e Barnabé (Atos 13. 13 e 46), já que agora Paulo estava assumindo a liderança, deixando-o em segundo plano.
3) Talvez, Marcos não quis enfrentar a dura escalada das montanhas de Taurus, conhecidas por serem infestadas por bandidos (cf. “em perigo de salteadores”. 2 Co 11.26)?
4) Paulo estava doente e Marcos considerava imprudente sua determinação de ir em direção ao norte, passando pelas montanhas. A carta aos Gálatas nos mostra em que circunstâncias Paulo chegou às cidades do sul do planalto da Galácia: “e vós sabeis que vos preguei o evangelho a primeira vez, por causa de uma infermidade física”. (Gl 4.13).
5) Quem sabe Marcos, um membro da Igreja conservadora de Jerusalém, não concordava com a ousadia do programa de Paulo em anunciar aos gentios o Evangelho de Cristo. Teria sido ele o opositor de Atos 15.1 que provocou a oposição dos judaizantes contra Paulo?

Infelizmente ou felizmente, não sabemos o que verdadeiramente aconteceu. No entanto, mais à frente, o livro de Atos nos mostra uma cena interessantíssima: Paulo e Barnabé discordam a respeito da companhia de Marcos na segunda viagem missionária. (Atos 15.37) “queria levar também a João, chamado Marcos”, todavia Paulo (Atos 15.38) “não achava justo levarem aquele que se afastara desde a Panfília, não os acompanhando no trabalho”.

Resumo da obra: (Atos 15.39-41) “Houve entre eles tal desavença, que vieram a separar-se. Então, Barnabé, levando consigo a Marcos, navegou para Chipre. Mas Paulo, tendo escolhido a Silas, partiu encomendado pelos irmãos à graça do Senhor. E passou pela Síria e Cilícia, confirmando as igrejas”.

Sabemos, contudo, que mais tarde Paulo recomenda aos membros da Igreja de Colossos que acolha Marcos, caso ele venha visitá-los. (Cl 4.10). Dessa forma, o curriculum de João Marcos enriqueciasse cada vez mais: era filho de Maria de Jesrusalém, que possuia uma casa onde cristãos se reuniam , foi companheiro de Barnabé, útil nos últimos dias de Paulo, foi companheiro de Pedro, sendo por ele chamado de “meu filho Marcos” (1Pedro 5.13), e, conforme uma tradição confiável, autor do Segundo Evangelho, escrevendo as memórias de Pedro.

Aplicação Prática:
1) Diante do abandono e partida de amigos queridos, Paulo chama para o seu convívio um amigo que um dia, também, o abandonara. Ele não se ressentiu do mal, porque houve reconciliação e perdão; o chamado e os talentos dados por Deus a Marcos eram muito mais importantes e relevantes do que sua falha passada.
Reconcilie-se com antigos companheiros de estrada, visto que o orgulho não te levará a lugar algum.
Chame também aqueles que um dia você se reconciliou, não os deixe de lado com medo de se decepcionar novamente. Você verá o quanto eles te serão úteis na caminhada.

2) Apredemos com Paulo que não devemos reduzir o conceito de um amigo por causa de uma falha. Ele não eliminou Marcos de sua vida e não teve vergonha de lhe pedir ajuda.
Cuidado com quem eliminamos de nosso círculo, pois poderemos incorrer no erro de excluir alguém que poderá ser útil para nós como para muitos outros.


TERCEIRO PEDIDO:
(Vs. 13) “Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo...”

A partir do o verso 21, podemos inferir que o inverno estava às portas e sabemos que quando estamos sozinhos e passando por desconfortos físicos, a solidão e o sentimento de abandono tendem a se intensificar.

Além disso, o nosso orgulho nessas horas nos propõe o seguinte: “eu nunca dependi de favores de ninguém e não vai ser agora que eu vou pedir”. Porém, o que vemos o grande apóstolo Paulo fazer é justamente o contrário, “Paulo não tinha vergonha de dar atenção às suas necessidades físicas” .
Um fato semelhante ao de Paulo aconteceu com William Tyndale, contemporâneo de Lutero e pai da Bíblia Inglesa. Durante os dezoito meses do seu encarceramento, Tyndale escreveu um dos documentos mais tristes existentes em toda a história da Igreja Protestante (tirado dos arquivos do Concílio de Brabant): uma carta escrita em Latim, pela própria mão do reformador, para o governador de Vilvorde:
Creio, cheio de legítima adoração, que não estarei despercebido do que pode ter sido determinado com respeito a mim. Daí porque peço a Vossa Senhoria, e isso pelo Senhor Jesus, que se devo permanecer aqui pelo inverno, Vossa Senhoria diga ao comissário que faça a gentileza de enviar-me, dos meus pertences que estão com ele, um boné contra o frio, visto como sinto muito frio na cabeça [...]. Também uma capa de inverno, pois a que tenho é muito fina[...].
Peço que me seja permitido ter uma lâmpada à noite. É de fato aterrador ficar sentado sozinho no escuro. Mas, antes de tudo, peço que ele gentilmente me permita ter uma Bíblia hebraica, uma gramática hebraica e um dicionário hebraico, para que eu aproveite o tempo estudando [...] .
Aplicação Prática:
1) Paulo não teve vergonha de pedir favores aos seus amigos.
Não devemos ter vergonha de pedir ajuda aos nossos amigos em relação ao nosso físico.


QUARTO PEDIDO:
“... bem como os livros, especialmente os pergaminhos”.

Diz o dito popular: “mente vazia, oficina do diabo”. Apesar de sua morte estar próxima, isso não era motivo para se entregar ao relaxamento e à acomodação. O apóstolo sabia que sua mente precisava estar ocupada, bem alimentada e nutrida constantimente.

João Calvino, há mais ou menos quinhentos anos, fez o seguinte comentário diante desta porção da Palavra de Deus:

“É óbivio que, á luz deste fato, embora o apóstolo já estivesse se preparando para a morte, ele não renuncia à leitura. Onde estão aqueles que acreditam que já progrediram tanto que não mais necessitam de outros recursos e qual deles ousaria comapara-se com Paulo? Ainda mais, esta passagem refuta a demência dos fanáticos que desprezam os livros e condenam toda e qualquer leitura, bem como se gabam tão-somente de suas inspirações divinas particulares. Mas é preciso notar bem que esta passagem recomenda a todos os piedosos leitura contínua como algo do qual poderão estrair muito proveito”[grifo meu] .

Infelizmente, Paulo não diz que livros eram esses. Partes das Escrituras? Cópias de suas cartas? Escritos de algum evangelista? Anotações de sermões? Não sabemos! Contudo, conhecendo a piedade e o caráter de Paulo, com certeza não seria de todo errado afirmar que eram Escritos Sagrados ou livros que lhe falariam ao coração.

Vejamos algumas evidências:

Anteriormente, Paulo escrevera em sua primeira carta a Timóteo as seguintes palavras: “13 Até à minha chegada, aplica-te à leitura, à exortação, ao ensino.[...] 15 Medita estas coisas e nelas sê diligente, para que o teu progresso a todos seja manifesto. [...]”.(1Timóteo 4.13-16). E ele não poderia fazer diferente: leria e meditaria na Palavra de Deus até às vesperas de sua morte, uma vez que esse era o meio mais seguro de se relacionar com Deus – seu melhor amigo.

Paulo também redigira uma carta aos Romanos, afirmando que: “De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus”. (Romanos 10.17). Isto é, a Palavra de Deus gera fé e convicção. Tudo o que ele precisava, espiritualmente falando, estaria ali.
Outro fator importantíssimo era que Paulo tinha absoluta certeza de que as Sagradas Letras eram mensagens que poderiam ecoar em seu coração naquele exato momento através da iluminação do Espírito Santo. Ora, ele mesmo asseverara que “toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça,...” (1 Timóteo 3.16).

Para finalizar, sabendo que sua concepção sobre quando devemos orar – “orai sem cessar.”(1Tessalonicenses 5.17) –, mais as Escrituras em suas mãos, resultaria em facilmente ouvir e compreender a vontade de Deus para aquele momento; sua oração não seria egoísta ou acusativa, mas, sim, comforme à vontade do Pai.
Jesus, o Bom Amigo, disse a verdade aos seus: “ 7 Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito”. “ [...]. 20 Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: não é o servo maior do que seu senhor. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros;...”. (João 15. 7; 20).
Paulo sabia que essa era a vontade de Deus para sua vida naquele momento, visto que fora justamente isso que Deus revelara a Ananias: “... este é para mim um instrumento escolhido para levar o meu nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel; 16 pois eu lhe mostrarei quanto lhe importa sofrer pelo meu nome”. (Atos 9.15-16).

Aplicação Prática;
1) Paulo queria se ocupar cada vez mais e a leitura era algo de grande valor.
Para vencer a solidão e o abandono, leia mais, ocupe o seu tempo, não dê descanço a sua mente, dá-lhe trabalho e alimento. Leia as Escrituras e livros que fale ao seu coração!

2) Paulo sabia que Deus falava através de sua Palavra em qualquer tempo e situação.
Se queremos vencer o sentimento de perda, abandono e solidão, precisamos de nos relacionar mais com Deus através de sua Palavra. É a Palavra de Deus que edifica; é ela que nos exorta e nos chama a uma mudança; é na Palavra de Deus que está revelada a vontade de Deus para nós; é através dela que ouvimos a voz do Bom Pastor e Amigo Verdadeiro hoje, sob a iluminação do Espírito Santo.

CONCLUSÃO

Se queremos vencer os dias de solidão, precisamos:

1) Procurar nossos amigos; eles são provisões amorosas de Deus para nos suprir emocionalmente e afetivamente;

2) Procurar, principalemnte, entre aqueles que um dia quase excluimos de nosso convívio;através deles vemos o que poderiamos ter perdido;

3) Suprir as carências do corpo, mesmo que isso inclua pedir ajuda para um de nossos amigo;

4) Ocupar a nossa mente com a leitura da Palavra de Deus, pois é através delas que podemos entender e compreender a vontade de Deus para nós hoje. É através delas que ouvimos a voz do Bom Amigo e Pastor Jesus Cristo. É através delas que somos supridos espiritualmente;

2 comentários:

  1. Muito obrigado por suas reflexões! Estava desesperado em prantos por causa da solidão que sinto em minha casa agora, depois de terminar um namoro longo. Estava acomodado em minha zona de conforto, acostumado ao ócio de todo dia e agora, graças ao seu texto, vejo uma luz para minhas trevas e um relampejo de esperança por dias melhores. Talvez tenha salvo minha vida... obrigado!

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  2. Genesis 2:18 - Não é bom que o homem esteja só!

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