terça-feira, 25 de maio de 2010

QUATRO ARMAS PARA COMBATER A SOLIDÃO E O ABANDONO


INTRODUÇÃO

Muitas coisas podem nos fazer sentir o frio da solidão: a falta de amizades durante a infância, adolescência ou na fase adulta, mudança de cidade, perda de emprego, um namoro rompido abruptamente, um casamento em que há ressentimento ou quando o amor dado não é correspondido, um divórcio e a perda de um ente querido.

Sem dúvida, essas situações podem desencadear não só a solidão, mas também a depressão. Aprender a lidar com mudanças e situações adversas é essencial para superar os dias maus - o sentimento de abandono, perda, solidão e depressão.

Acredito que dentro desse ramo, o apóstolo Paulo é a pessoa ideal para nos apontar um caminho, pois ele mesmo afirmou em Filipenses 4.10-13 o seguinte: [...] porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. 12 Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez; 13 tudo posso naquele que me fortalece.

Assim sendo, gostaria de mostrar quatro atitudes práticas – quatro pedidos – de Paulo diante dos dias de abandono, solidão e tensão antes de ser excutado em Roma em meados do primeiro século.

Texto base: 2 Timóteo 4.9-18:
“ 9 Procura vir ter comigo depressa. 10 Porque Demas, tendo amado o presente século, me abandonou e se foi para Tessalônica; Crescente foi para a Galácia, Tito, para a Dalmácia. 11 Somente Lucas está comigo. Toma contigo Marcos e traze-o, pois me é útil para o ministério. 12 Quanto a Tíquico, mandei-o até Éfeso. 13 Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, bem como os livros, especialmente os pergaminhos. 14 Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males; o Senhor lhe dará a paga segundo as suas obras. 15 Tu, guarda-te também dele, porque resistiu fortemente às nossas palavras. 16 Na minha primeira defesa, ninguém foi a meu favor; antes, todos me abandonaram. Que isto não lhes seja posto em conta! 17 Mas o Senhor me assistiu e me revestiu de forças, para que, por meu intermédio, a pregação fosse plenamente cumprida, e todos os gentios a ouvissem; e fui libertado da boca do leão. 18 O Senhor me livrará também de toda obra maligna e me levará salvo para o seu reino celestial. A ele, glória pelos séculos dos séculos. Amém!”.

PRIMEIRO PEDIDO:
(Vs 9-11) “Procura vir ter comigo depressa. 10 Porque Demas, tendo amado o presente século, me abandonou e se foi para Tessalônica; Crescente foi para a Galácia, Tito, para a Dalmácia. 11 Somente Lucas está comigo”.

À luz deste trecho, podemos facilmente perceber que tanto Paulo quanto Lucas estavam ficando sós. Paulo, em particular, como bem caracterizou John Stott, vivenciava o seu Getsemani – preso pela segunda e às vésperas do martírio.
Então, em seu primeiro pedido, o apóstolo pede a Timóteo, “seu verdadeiro filho na fé”(1 Tm 1.2), que venha o quanto antes para estar com ele e enfatiza o seu pedido no verso 21, dizendo: “venha antes do inverno”.

Sem dúvida, Paulo sentia muito com a partida de companheiros fíes e sofria profundamente com o abandono de outros. Demas, por exemplo, é citado ao lado de Lucas em Colossenses 4.14 e em Filemom vs.24 e, agora, é listado como desertor.

Paulo era um homem consciente do seu chamado e sabia que precisava dar as últimas orientações, compartilhar algumas experiências, trazer consolo e exortações antes de partir. Por outro lado, Paulo precisava também de ser cosolado através do olhar de amigos e de boas-notícias, como bem nos ensina Provérbios 15.30: “O olhar de amigo alegra ao coração; as boas-novas fortalecem até os ossos”.

Aplicações Práticas:
1) Esta passagem evidencia o trabalho e o envolvimento incansável de Paulo mesmo na prisão.
Não existe uma justificativa que nos libere do labor da obra de Deus – nem mesmo a prisão. Veja o exemplo John Bunyan: em doze anos de prisão, escreveu um bestseller – O Peregrino.

2) Esta porção das Escrituras mostra a fragilidade do grande apóstolo Paulo, um homem que necessitava de companhia – de amigos.
Devemos sempre ter diante de nós o seguinte: “o homem nunca foi e nunca será uma ilha por mais poderoso que ele seja”; “não somos tão “espirituais” ao ponto de dizer não preciso de ninguém, pois Cristo me basta”. Desde o início não era bom que o homem vivesse só e, em seguida, Deus ordenou: “crescei e multiplicai”. De acordo com John Stott, “a amizade humana, contudo, é uma provisão amorosa de Deus” .

3) O texto mostra claramente que alguns amigos partem para uma missão e outros, por sua vez, abandonam a missão.
Devemos estar cientes de que amigos vem e vão por diferentes motivos – pelos certos e, também, pelos errados.

4) Diante do abandono ou da partida de amigos importantes, Paulo buscou auxílio de outros amigos.
Assim, não devemos nos isolar e chorar sozinhos, mas, sim nos lembrar de que ainda há outros amigos; peça para que eles o visitem, ligue para eles, mande e-mails e scraps no Orkut, etc...


SEGUNDO PEDIDO:
(Vs 11b) “Toma contigo Marcos e traze-o, pois me é útil para o ministério”.

Este é sem dúvida um pedido intrigante e ao mesmo tempo confrontador! Marcos havia sido companheiro de Paulo e o desertara há alguns anos atrás. (Atos 13.13). John Stott, ao olhar para tal episódio, nos apresenta alguns possíveis motivos para a decisão de João Marcos :

1) Estaria com saudades de sua casa espaçosa em Jerusalém.
2) Estava ressentido com o fato de a sociedade Barnabé e Saulo (Atos 13.2 e 7) ter se tornado Paulo e Barnabé (Atos 13. 13 e 46), já que agora Paulo estava assumindo a liderança, deixando-o em segundo plano.
3) Talvez, Marcos não quis enfrentar a dura escalada das montanhas de Taurus, conhecidas por serem infestadas por bandidos (cf. “em perigo de salteadores”. 2 Co 11.26)?
4) Paulo estava doente e Marcos considerava imprudente sua determinação de ir em direção ao norte, passando pelas montanhas. A carta aos Gálatas nos mostra em que circunstâncias Paulo chegou às cidades do sul do planalto da Galácia: “e vós sabeis que vos preguei o evangelho a primeira vez, por causa de uma infermidade física”. (Gl 4.13).
5) Quem sabe Marcos, um membro da Igreja conservadora de Jerusalém, não concordava com a ousadia do programa de Paulo em anunciar aos gentios o Evangelho de Cristo. Teria sido ele o opositor de Atos 15.1 que provocou a oposição dos judaizantes contra Paulo?

Infelizmente ou felizmente, não sabemos o que verdadeiramente aconteceu. No entanto, mais à frente, o livro de Atos nos mostra uma cena interessantíssima: Paulo e Barnabé discordam a respeito da companhia de Marcos na segunda viagem missionária. (Atos 15.37) “queria levar também a João, chamado Marcos”, todavia Paulo (Atos 15.38) “não achava justo levarem aquele que se afastara desde a Panfília, não os acompanhando no trabalho”.

Resumo da obra: (Atos 15.39-41) “Houve entre eles tal desavença, que vieram a separar-se. Então, Barnabé, levando consigo a Marcos, navegou para Chipre. Mas Paulo, tendo escolhido a Silas, partiu encomendado pelos irmãos à graça do Senhor. E passou pela Síria e Cilícia, confirmando as igrejas”.

Sabemos, contudo, que mais tarde Paulo recomenda aos membros da Igreja de Colossos que acolha Marcos, caso ele venha visitá-los. (Cl 4.10). Dessa forma, o curriculum de João Marcos enriqueciasse cada vez mais: era filho de Maria de Jesrusalém, que possuia uma casa onde cristãos se reuniam , foi companheiro de Barnabé, útil nos últimos dias de Paulo, foi companheiro de Pedro, sendo por ele chamado de “meu filho Marcos” (1Pedro 5.13), e, conforme uma tradição confiável, autor do Segundo Evangelho, escrevendo as memórias de Pedro.

Aplicação Prática:
1) Diante do abandono e partida de amigos queridos, Paulo chama para o seu convívio um amigo que um dia, também, o abandonara. Ele não se ressentiu do mal, porque houve reconciliação e perdão; o chamado e os talentos dados por Deus a Marcos eram muito mais importantes e relevantes do que sua falha passada.
Reconcilie-se com antigos companheiros de estrada, visto que o orgulho não te levará a lugar algum.
Chame também aqueles que um dia você se reconciliou, não os deixe de lado com medo de se decepcionar novamente. Você verá o quanto eles te serão úteis na caminhada.

2) Apredemos com Paulo que não devemos reduzir o conceito de um amigo por causa de uma falha. Ele não eliminou Marcos de sua vida e não teve vergonha de lhe pedir ajuda.
Cuidado com quem eliminamos de nosso círculo, pois poderemos incorrer no erro de excluir alguém que poderá ser útil para nós como para muitos outros.


TERCEIRO PEDIDO:
(Vs. 13) “Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo...”

A partir do o verso 21, podemos inferir que o inverno estava às portas e sabemos que quando estamos sozinhos e passando por desconfortos físicos, a solidão e o sentimento de abandono tendem a se intensificar.

Além disso, o nosso orgulho nessas horas nos propõe o seguinte: “eu nunca dependi de favores de ninguém e não vai ser agora que eu vou pedir”. Porém, o que vemos o grande apóstolo Paulo fazer é justamente o contrário, “Paulo não tinha vergonha de dar atenção às suas necessidades físicas” .
Um fato semelhante ao de Paulo aconteceu com William Tyndale, contemporâneo de Lutero e pai da Bíblia Inglesa. Durante os dezoito meses do seu encarceramento, Tyndale escreveu um dos documentos mais tristes existentes em toda a história da Igreja Protestante (tirado dos arquivos do Concílio de Brabant): uma carta escrita em Latim, pela própria mão do reformador, para o governador de Vilvorde:
Creio, cheio de legítima adoração, que não estarei despercebido do que pode ter sido determinado com respeito a mim. Daí porque peço a Vossa Senhoria, e isso pelo Senhor Jesus, que se devo permanecer aqui pelo inverno, Vossa Senhoria diga ao comissário que faça a gentileza de enviar-me, dos meus pertences que estão com ele, um boné contra o frio, visto como sinto muito frio na cabeça [...]. Também uma capa de inverno, pois a que tenho é muito fina[...].
Peço que me seja permitido ter uma lâmpada à noite. É de fato aterrador ficar sentado sozinho no escuro. Mas, antes de tudo, peço que ele gentilmente me permita ter uma Bíblia hebraica, uma gramática hebraica e um dicionário hebraico, para que eu aproveite o tempo estudando [...] .
Aplicação Prática:
1) Paulo não teve vergonha de pedir favores aos seus amigos.
Não devemos ter vergonha de pedir ajuda aos nossos amigos em relação ao nosso físico.


QUARTO PEDIDO:
“... bem como os livros, especialmente os pergaminhos”.

Diz o dito popular: “mente vazia, oficina do diabo”. Apesar de sua morte estar próxima, isso não era motivo para se entregar ao relaxamento e à acomodação. O apóstolo sabia que sua mente precisava estar ocupada, bem alimentada e nutrida constantimente.

João Calvino, há mais ou menos quinhentos anos, fez o seguinte comentário diante desta porção da Palavra de Deus:

“É óbivio que, á luz deste fato, embora o apóstolo já estivesse se preparando para a morte, ele não renuncia à leitura. Onde estão aqueles que acreditam que já progrediram tanto que não mais necessitam de outros recursos e qual deles ousaria comapara-se com Paulo? Ainda mais, esta passagem refuta a demência dos fanáticos que desprezam os livros e condenam toda e qualquer leitura, bem como se gabam tão-somente de suas inspirações divinas particulares. Mas é preciso notar bem que esta passagem recomenda a todos os piedosos leitura contínua como algo do qual poderão estrair muito proveito”[grifo meu] .

Infelizmente, Paulo não diz que livros eram esses. Partes das Escrituras? Cópias de suas cartas? Escritos de algum evangelista? Anotações de sermões? Não sabemos! Contudo, conhecendo a piedade e o caráter de Paulo, com certeza não seria de todo errado afirmar que eram Escritos Sagrados ou livros que lhe falariam ao coração.

Vejamos algumas evidências:

Anteriormente, Paulo escrevera em sua primeira carta a Timóteo as seguintes palavras: “13 Até à minha chegada, aplica-te à leitura, à exortação, ao ensino.[...] 15 Medita estas coisas e nelas sê diligente, para que o teu progresso a todos seja manifesto. [...]”.(1Timóteo 4.13-16). E ele não poderia fazer diferente: leria e meditaria na Palavra de Deus até às vesperas de sua morte, uma vez que esse era o meio mais seguro de se relacionar com Deus – seu melhor amigo.

Paulo também redigira uma carta aos Romanos, afirmando que: “De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus”. (Romanos 10.17). Isto é, a Palavra de Deus gera fé e convicção. Tudo o que ele precisava, espiritualmente falando, estaria ali.
Outro fator importantíssimo era que Paulo tinha absoluta certeza de que as Sagradas Letras eram mensagens que poderiam ecoar em seu coração naquele exato momento através da iluminação do Espírito Santo. Ora, ele mesmo asseverara que “toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça,...” (1 Timóteo 3.16).

Para finalizar, sabendo que sua concepção sobre quando devemos orar – “orai sem cessar.”(1Tessalonicenses 5.17) –, mais as Escrituras em suas mãos, resultaria em facilmente ouvir e compreender a vontade de Deus para aquele momento; sua oração não seria egoísta ou acusativa, mas, sim, comforme à vontade do Pai.
Jesus, o Bom Amigo, disse a verdade aos seus: “ 7 Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito”. “ [...]. 20 Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: não é o servo maior do que seu senhor. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros;...”. (João 15. 7; 20).
Paulo sabia que essa era a vontade de Deus para sua vida naquele momento, visto que fora justamente isso que Deus revelara a Ananias: “... este é para mim um instrumento escolhido para levar o meu nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel; 16 pois eu lhe mostrarei quanto lhe importa sofrer pelo meu nome”. (Atos 9.15-16).

Aplicação Prática;
1) Paulo queria se ocupar cada vez mais e a leitura era algo de grande valor.
Para vencer a solidão e o abandono, leia mais, ocupe o seu tempo, não dê descanço a sua mente, dá-lhe trabalho e alimento. Leia as Escrituras e livros que fale ao seu coração!

2) Paulo sabia que Deus falava através de sua Palavra em qualquer tempo e situação.
Se queremos vencer o sentimento de perda, abandono e solidão, precisamos de nos relacionar mais com Deus através de sua Palavra. É a Palavra de Deus que edifica; é ela que nos exorta e nos chama a uma mudança; é na Palavra de Deus que está revelada a vontade de Deus para nós; é através dela que ouvimos a voz do Bom Pastor e Amigo Verdadeiro hoje, sob a iluminação do Espírito Santo.

CONCLUSÃO

Se queremos vencer os dias de solidão, precisamos:

1) Procurar nossos amigos; eles são provisões amorosas de Deus para nos suprir emocionalmente e afetivamente;

2) Procurar, principalemnte, entre aqueles que um dia quase excluimos de nosso convívio;através deles vemos o que poderiamos ter perdido;

3) Suprir as carências do corpo, mesmo que isso inclua pedir ajuda para um de nossos amigo;

4) Ocupar a nossa mente com a leitura da Palavra de Deus, pois é através delas que podemos entender e compreender a vontade de Deus para nós hoje. É através delas que ouvimos a voz do Bom Amigo e Pastor Jesus Cristo. É através delas que somos supridos espiritualmente;

domingo, 25 de abril de 2010

Fidelidade na Amizade através da Mentoria Cristã


I Samuel 18.1-4.
Texto de Alcindo Almeida – 21/09/2009

“Eu poderia suportar embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos. Alguns deles eu não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me faz seguir em frente pela vida, mas é delicioso que eles saibam e sintam que eu os amo, embora não declare e nem os procure sempre”.

Fidelidade, palavra e atitude difícil de ser ouvida e vivida hoje. E neste livro quero levar você a refletir e sobre a fidelidade nas suas amizades e resgatar a valor da verdadeira amizade. Fidelidade significa a “firmeza e certeza de propósitos, uma atitude justa, uma devoção de alguém a uma pessoa ou a uma causa. Tudo feito pela confiança, sinceridade e pela lealdade verdadeira” (CHAMPLIN, 1995, p. 725).
Eu desafio você a resgatar neste Século conturbado, impreciso e desgastado, amizade fiel, como aquela história do Conde Monte Cristo e seu serviçal, que dizia a ele: Eu o protegerei de você mesmo para não se perder na vida.
Sei que poderão surgir inúmeras perguntas: Por que será que temos tanto medo de nos entregar nas amizades? Por que temos medo de ser amigos dos outros se é Deus que nos dá pessoas que nos ajudam a permanecer no caminho e nos ajudam a voltar para o centro? Por que não valorizamos orientadores espirituais para nos ajudarem na vida cotidiana? Por que somos pessoas tão desconfiadas nas amizades?
Por que temos medo de procurar alguém que abrace e ouça as dores e angústias da nossa alma? Um pastor, um amigo, uma amiga?
Fidelidade a outros é o que devemos cultivar na vida cristã. Olhando um pouquinho sobre a vida de dois homens de Deus, os quais cultivaram um amor nobre, um amor sincero e verdadeiro, um amor que os aproximava para que dividissem a dor e a alegria de cada um deles.
Dois amigos que celebravam de corpo e alma uma verdadeira amizade. Com toda a certeza poderemos resolver estes conflitos nas dificuldades de amizade. E poderemos trabalhar com fidelidade as nossas amizades.
No capítulo 18 de I Samuel vemos a vida de dois homens de Deus: Davi e Jônatas Lá há o encontro dos dois heróis de Israel, Jônatas, filho de Saul, o rapaz querido por todo o povo e Davi, o filho de Jessé também querido por todo o povo de Israel.
Neste texto há o encontro do amado de Deus e de Jeová deu. Provavelmente a notícia da vitória de Davi sobre o gigante Golias impulsionou Jônatas para procurar Davi e saber quem era aquele que bravamente lutara em favor do seu povo. E finalmente vemos o encontro de duas pessoas que tinham na alma a nobreza do amor, da amizade, da comunhão e da sinceridade de caráter.
Quais são os princípios que o texto nos ensina?

1. A amizade fiel está enraizada no coração:

No versículo 1 vemos que Jônatas ligou o seu coração ao coração de Davi, amarrou, colou o seu coração no coração de Davi. A idéia desse verbo ligar no original hebraico é de se obrigar a amarrar, é a idéia de se comprometer muitíssimo com essa ligação. Isto aconteceu na vida desses rapazes, eles se ligaram muitíssimo, firmaram nesse dia uma amizade que foi enraizada no coração deles. Jônatas amou a Davi como a sua própria alma.
Quantos têm uma amizade assim? Uma amizade que é enraizada não no dinheiro que o outro tem, no carro, na beleza, no bom papo, na casa de praia e etc. Mas, uma amizade que é enraizada espontaneamente no coração. Uma amizade sincera e pura. Um irmão que é amigo nas alegrias e principalmente nas tribulações. Uma amizade que mesmo quando se chateia, continua sendo amizade verdadeira e singela.
O dinheiro compra qualquer coisa na terra. Ele só não compra a realidade da amizade verdadeira. Pois, só a tem quem é amado de Deus, quem é tocado por Deus, quem é sensibilizado por Deus. A amizade é uma das maiores dádivas que o ser humano pode receber. Ela está para além dos alvos comuns, dos interesses compartilhados.
Olhando para a vida destes amigos: Jônatas e Davi percebemos uma amizade que se traduz na alegria de dar e receber, de amar e de sofrer, de confiar e se entregar sem nenhuma reserva (BARBOSA, 1999, pp.13-19).
Vivemos numa sociedade em que o culto ao individualismo, a busca pela realização pessoal, a satisfação imposta pelo consumismo presente, tem criado em nosso coração uma sensação falsa de preenchimento e uma percepção cínica da amizade. Por isso, na relação de amizade baseada em Jônatas e Davi, causa estranheza a nós.
A lição para nós é que devemos cultivar amizade enraizada no coração, como foi na vida de Davi e Jônatas. Pois, foi esta amizade que privou Davi da loucura, da amargura, da doença e da vingança. Essa fidelidade entre estes dois moços de Deus privou Davi de cometer até a própria morte de Saul. Jônatas através de uma fidelidade sem medida poupou Davi de violentar a sua própria alma.
Deus quer nos usar como instrumentos para sermos amigos de corpo e alma do nosso próximo. Lembrem-se destas palavras de Salomão: Em todo tempo ama a amigo; e na angústia nasce o irmão (Pv. 17.17). O homem que tem amigos pode congratular-se; mas há amigo mais chegado do que irmão (Pv. 18.24).
Há um Poema de Vinícius de Morais que diz assim:

“Eu poderia suportar embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos. Alguns deles eu não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me faz seguir em frente pela vida, mas é delicioso que eles saibam e sintam que eu os amo, embora não declare e nem os procure sempre”.

A parte que me chamou a tenção no poema foi: “... mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos”. Vemos esta verdade na vida desses dois amigos inseparáveis. Quando olhamos o texto de I Samuel 18.8 que Saul estava embrutecido e cheio de inveja no coração em relação a Davi. Saul mostra que está disposto a matar Davi. Mas, não obstante a essa situação, a reação de Jônatas em relação ao seu amigo Davi é de amizade profunda.
No capítulo 19.1 é afirmando que Saul pediu a Jônatas e a todos os seus servos, para que matassem a Davi. Porém, o texto afirma que Jônatas, filho de Saul estava muito afeiçoado a Davi.

Vejam como ficou o coração de Saul por causa do ódio. Ele ficou azedo, cego em relação a Davi. Tanto que não ouviu a palavra de Jônatas no versículo 4 de que não deveria pecar o rei contra seu servo Davi, porque ele não pecara contra o rei e porque os seus feitos para com o rei eram muito bons. No início até disse a Jônatas que não faria nada. Mas, o ódio corrompeu o coração de Saul e o cegou diante das ações extraordinárias de Davi para com Israel.
Na experiência de perseguição de Saul a Davi vemos a amizade e companheirismo que Deus quer que tenhamos. Ele quer que sejamos leais com o nosso irmão. Nos versículos dois a cinco dizem: “Pelo que Jônatas o anunciou a Davi, dizendo: Saul, meu pai, procura matar-te; portanto, guarda-te amanhã pela manhã, fica num lugar oculto e esconde-te; eu sairei e me porei ao lado de meu pai no campo em que estiveres; falarei acerca de ti a meu pai, verei o que há, e to anunciarei”.
Que preciosa a lealdade deste jovem Jônatas. Ele se preocupa com seu amigo Davi. Ele quer falar bem de Davi para evitar o mal em sua vida. Ele arrisca a sua vida para defender o seu parceiro. Ele pede para o seu pai não pecar contra Davi. Ele elogia a Davi mostrando ao seu pai os grandes benefícios que ele fez para o povo.
Deus quer relacionamentos semelhantes ao de Davi e Jônatas. Um relacionamento que visa o crescimento e a glória do outro. Um relacionamento que visa à preservação da vida do outro. Um relacionamento que de fato está enraizado no coração da gente. Um relacionamento que não gera desconfiança em nenhum momento. Percebam que Jônatas está diante do próprio pai que é rei de Israel. E assim, mesmo ele se coloca para defesa e demonstração da sua lealdade para com o seu amigo.
Sejamos leais para como os nossos amigos. Não importa o preço que paguemos, sejamos absolutamente leais. O filme de sucesso Senhor dos anéis mostra a história de Frodo e Sam. Os dois seguiam juntos para o rumo de destruir o anel para a paz na terra. E Sam quase perde a sua vida, é humilhado, apanha e passa fome. Alguns colocam em dúvida a sua lealdade para com Frodo, mas, ele segue em frente até o fim e é reconhecido como amigo leal de Frodo e todo o reinado de Aragon se curva diante destes dois amigos leais.
Deus quer que sejamos leais nas amizades. A lealdade é marca do cristianismo. Muitos homens marcaram a história por causa da lealdade na amizade. Jônatas e Davi são parte desta história que nos desafia a lutar pela lealdade, sinceridade e companheirismo no relacionamento. Pela amizade enraizada no coração.
No capítulo 19.12-15 lemos: “E disse Jônatas a Davi: O Senhor, Deus de Israel, seja testemunha! Sondando eu a meu pai amanhã a estas horas, ou depois de amanhã, se houver coisa favorável para Davi, eu não enviarei a ti e não to farei saber? O Senhor faça assim a Jônatas, e outro tanto, se, querendo meu pai fazer-te mal, eu não te fizer saber, e não te deixar partir, para ires em paz; e o Senhor seja contigo, assim como foi com meu pai. E não somente usarás para comigo, enquanto viver, da benevolência do Senhor, para que não morra, como também não cortarás nunca da minha casa a tua benevolência, nem ainda quando o Senhor tiver desarraigado da terra a cada um dos inimigos de Davi”.
Uma pergunta que ecoa no coração é: Que tipo de amizade é essa?
Jônatas sabe das intenções de seu pai e o desejo do seu coração é de abençoar a vida de Davi poupando-o da morte. No versículo quatro Jônatas diz: O que desejas tu que eu te faça?
Davi também deseja que Jônatas o abençoe e pede para que use de misericórdia para com ele em nome da aliança no Senhor. E depois de fazerem aliança, Jônatas deseja a bênção do Senhor sobre a vida de Davi porque ele o amava com todo o amor da sua alma (versículo 17).
E quando Jônatas está na mesa diante de uma situação difícil, ele continua abençoando a vida de seu irmão. Saul levantou a lança para o ferir e assim entende Jônatas que seu pai tinha determinado matar a Davi. E ele abençoa Davi quando se levanta da mesa, e no segundo dia do mês não come. Porque ele se magoa por causa de Davi, porque seu pai o tinha ultrajado. Ele mostra o quanto é bênção para o seu amigo e vai ao encontro dele para abençoá-lo e reafirmar a aliança. O texto narra o encontro profundo entre eles.
O versículo quarenta e um diz: “Logo que o moço se foi, levantou-se Davi da banda do sul, e lançou-se sobre o seu rosto em terra, e inclinou-se três vezes; e se beijaram um ao outro, e choraram ambos, mas Davi chorou muito mais”. O versículo quarenta e dois diz: “E disse Jônatas a Davi: Vai-te em paz, porquanto nós temos jurado ambos em nome do Senhor, dizendo: O Senhor seja entre mim e ti, e entre a minha descendência e a tua descendência perpetuamente”.
Ele mostra o quanto é abençoador da vida de seu amigo Davi e diz: Vai-te em paz. Deus quer que sejamos iguais a Jônatas e Davi, leais, sinceros e instrumentos de bênçãos para os outros. Deus quer que tenhamos uma aliança que abençoa, que dignifica o outro. Que faz a gente defender o outro custe o que custar.
Um filme que me marcou demais foi Ninguém é perfeito (Robert de Niro e Tim Robins). O homem muito forte, um herói do FBI, sofre um enfarto e enquanto ele estava bom, todos estavam perto dele. Agora, debilitado, sem forças não tem ninguém ao seu lado, a não ser aquele que ele menosprezava antes. Este é o que se torna o amigo leal dele, este que cuida dele. Que o leva para um lugar de segurança.
Deus que sejamos bênçãos para os amigos. Porque amanhã pode ser que precisemos daqueles que menos acreditamos que precisaremos. Um livro extraordinário que li recentemente foi Eu lhe desejo um amigo de Anselm Grün. Ele diz algo profundo sobre a amizade:

“A amigo ao lado nos dá forças para continuar apesar de todas as adversidades. Ele nos sustenta quando estamos a ponto de ir ao chão, de costas com a parede. Ele nos motiva na ousadia pela vida. Sem amigo corremos o risco de perder o chão sob os pés. Sabendo que meu amigo me apóia, os problemas se relativizam. A conversa com o amigo faz com que eu veja os problemas sob outra luz. A proximidade de um amigo se torna uma proteção contra as emoções negativas que me chegam de fora. Ela contrabalança tudo aquilo que de pesado cai diariamente sobre mim” (GRÜN, pp. 42-43).

Os grandes homens e mulheres de Deus puderam experimentar essa amizade verdadeira: José e seu irmão Benjamim; Calebe e Josué; Rute e Noemi; Isabel e Maria; Paulo e Silas; Paulo e Timóteo; Paulo e Lucas; Paulo e Epafrodito; Jesus e os três discípulos mais chegados (Pedro, João e Tiago). Precisamos buscar este tipo de amizade que é paradigma, padrão para nossa vida. Uma amizade enraizada no coração, assim, como aconteceu na vida de Jônatas e Davi.
Henri Nouwen diz que amizades enraizadas no coração nos permitem estar profundamente envolvidos com o sofrimento do mundo sem sermos tragados por ele (NOUWEN, 1999, p. 79).
Há um poema desconhecido sobre amigos e que vale a pena lermos:

“Amigos são flores... Amigos são poemas... Como flores devem ser cultivadas com carinho e dedicação, para que as tempestades da vida não esfacelem suas pétalas e para que possamos ter seu perfume em todas as estações. Como poemas, devem ser sentidos nas fibras mais sutis da alma, com respeito e gratidão para que sejam a melodia risonha a embalar nossas horas em todos os períodos do ano”.

O segundo princípio que aprendemos é:

2. A amizade fiel gera autodoação e altruísmo:

O que significa essa palavra altruísmo? Ela significa que devemos amar o próximo com a intenção de desprendimento de todos os nossos interesses. É o princípio de abnegação, é exatamente o contrário de ser egoísta. É o princípio de renúncia para satisfazer as necessidades do outro.
Isso aconteceu na vida de Jônatas e Davi. Eles firmaram uma aliança por causa da amizade verdadeira e sincera. Jônatas amava a Davi como a sua própria alma como afirma o versículo 3. E Jônatas exercitou o princípio do autodoação e desprendimento dos seus interesses a fim de mostrar o seu amor e consideração por seu amigo Davi. O versículo 4 afirma que ele deu, abriu mão: da sua capa, dos seus vestidos, da sua espada, do seu arco e do seu cinto demonstrando amor e amizade pelo ungido do Senhor. O fato de Jônatas ter dado todas essas coisas a Davi foi um sinal público de honra prestada ao seu amigo Davi.
Quantos têm buscado esse princípio de altruísmo na relação com o próximo? De se dar sem interesses pessoais, mas, porque você ama o seu irmão independentemente do que ele é ou do que ele possui. Quantos têm se preocupado em investir no outro. De querer o melhor para o outro? É bom que nos lembremos de que: A preocupação do amor é se dar e se dar, não se afirmar. Porque o amor é o contrário do egoísmo.

Precisamos nos engajar nessa prática do altruísmo. E só poderemos fazer isto quando o alicerce da nossa amizade com o próximo for igual ao de Jônatas e Davi, o alicerce deles era Deus.
O amor de Deus é o único que torna possível o nosso amor e consideração pelo nosso próximo. A amizade e comunhão existem a partir de Deus. Não é um resultado de técnicas e estruturas que promovem a amizade e os relacionamentos, mas, Deus mesmo é a causa da amizade (BARBOSA, 1999, p.15). Não tenha medo de se dar para o outro. No livro No limiar da esperança - Daine Langberg disse:
“O medo nos coloca na defensiva, o amor acolhe. O medo leva a se esconder, o amor procura. O medo silencia, o amor se expressa. O medo traz pânico, o amor traz esperança. O medo mantém um registro, o amor perdoa gratuitamente” (LANGBERG, 2000, p. 198).

Amigos são dádivas de Deus, não os fabricamos, apenas os recebemos com alegria e gratidão e cultivamos com eles, amor e dedicação diária (BARBOSA, 1999, p. 51).
Quando temos medo de amar e ser amados, dificilmente construiremos vínculos da amizade e de comunhão. Na amizade com todas as suas limitações é que podemos experimentar o amor incondicional e ilimitado do nosso Pai.
A amizade é o encontro de almas que promove a nobreza do amor. É nela que aprendemos a dar e receber, a amar e sermos amados, a perdoar e compreender. Aprendemos a cuidar, consolar, confrontar e compartilhar alegrias e tristezas (BARBOSA, 1999, p.49).
Fomos chamados para a amizade, portanto, precisamos pedir ao Senhor para que coloque no nosso coração o desejo ardente de buscarmos amizades enraizadas no coração, acompanhadas de autodoação e de altruísmo. Vocês já perceberam que faltam amigos para buscarmos a Deus junto?
Há um texto clássico de Aelred de Rievaulx – Da amizade. Ele fala da necessidade de termos amigos na jornada cristã. Precisamos de conversas da alma para aprender com os outros. Temos de ter uma conversa que nos leva para o crescimento espiritual.
Aelred de Rievaulx afirma que uma amizade em Cristo nos ajuda a evitar as distrações no caminho da fé. A espiritualidade na amizade fiel nos ajuda a sair das distrações e tentações que o mundo joga sobre nós. Ele fala de quatro tipos de amizades:

1. Amizade funcional: uma amizade que não envolve a intimidade e coração. As pessoas só buscam ressonância naquilo que lhes interessa. Elas são pontes e afirmação para aquilo que nos empenhamos a fazer. Ela não penetra nos dilemas da alma. Essa amizade não foi a lógica de Davi e Jônatas porque eles se amavam de maneira fiel e sincera.

2. Amizade receptiva: relacionamento entre mestre e aluno. Entre o maduro e aquele que está crescendo. A partir do relacionamento desse nível quando há um superior, não haverá preocupação em partir para o lado mais profundo da aliança de amizade. Esse tipo é de mão única. A pessoa se abre só para saber as soluções e não para a abertura das limitações pessoais. É uma amizade de executivos que só se relacionam como gerente e subordinado.

3. Amizade recíproca: acontece quando duas pessoas têm disposições para caminharem lado a lado e tirarem suas máscaras. É quando acontece a necessidade de não julgar um ao outro. A idéia de caminhar junto na direção da graça de Deus na vida. Essa amizade é fundamental para a vida da igreja porque:

• Necessitamos de pessoas que prestem atenção nas outras: Jesus para a fim de ouvir a mulher pecadora. Ele para e ouve a multidão. Ele sensibiliza diante da mulher com o fluxo no sangue. Ele para e ouve Zaqueu um publicano. Ele se encontra com um jovem confuso com suas riquezas e posses. Nenhuma resposta de Jesus obedece a um padrão. Não é a mesma para Nicodemus e nem para o jovem rico. As suas respostas são de acordo com a singularidade de cada um. Jesus se preocupa com o ministério da atenção. Aprendemos com Jesus que a arte de ouvir potencializa até mesmo os efeitos dos antidepressivos. Jesus vivia a arte de ouvir e de dialogar com todas as pessoas e ele fazia isso com atenção. Como diz Augusto Cury: “Ele entrava no lar, na história e no mundo das pessoas” (CURY, O mestre da sensibilidade. 2006, p. 117).
Jesus era mestre em prestar atenção na dor dos outros. Ele sempre queria saber do ser e não do que cada tinha ou deixava de ter. E aqui está o princípio que deve fazer parte da nossa vida, olhar para o ser das pessoas. Jesus influenciava as pessoas através da sua atenção a ponto delas encontrarem sentido no próprio ser.
As pessoas quando recebiam a atenção de Jesus aprendiam a criar raízes dentro de si mesmas e passavam a ver a vida numa perspectiva mais nobre mesmo diante das suas misérias e dores existenciais (CURY, O mestre dos mestres. 2006, p. 115).

• Dentro do contexto da atenção Jesus particulariza a experiência da fé: a massificação inclui a pessoa na sociedade, mas, a exclui da natureza singular do ser. O encontro de Jesus com Nicodemus é retratado pela busca do significado real da fé. Jesus personaliza a experiência da fé na vida de Nicodemus. Ele personaliza a experiência da fé na vida da mulher adúltera e de Zaqueu. Deus nos convida a fazer como Jônatas e Davi fizeram, eles personificaram a fé deles numa aliança de amizade fiel e verdadeira.

4. Amizade da união de almas: para Rievaulx a união de almas envolve a graça de Deus para unir os corações na mesma direção. Ele usa exatamente o exemplo da amizade entre Jônatas e Davi. Ela vai para além da reciprocidade e envolve uma comunhão que transcende as empatias. Isto é autodoação na perspectiva da graça de Deus. É a amizade eucarística.
É como Jesus fez com os seus discípulos em que ele entregou o seu corpo e sangue em amor. Esta amizade envolve corpo, intelecto e alma. O problema dessa amizade nos nossos dias é a individualidade marcante e opressora. Porque ninguém quer sair da identidade funcional e distante. Não temos facilidade de conviver com as pessoas de maneira transparente. Sempre vivemos em função do forte e do competente. O que se expõe é fraco, é bobo e inferior.
A nossa cultura não valoriza o fraco e dependente na vida. Falar de união e santa na amizade é algo ridículo e sem a menor relevância na nossa cultura brasileira.
Somos chamados para ser canais da graça de Deus de uns com os outros através dessa amizade fiel. O problema é que temos dificuldades de nos expor para as pessoas. O chamado de Deus é sempre relacional e nunca distante.
A vida da fé precisa se expressar através da nossa relação com Deus e com o próximo. Os verdadeiros amigos procuram conhecer a nossa história. E nos ajudam a discernir os propósitos de Deus na nossa vida. Isso é amizade fiel semelhante à de Jônatas e Davi. Precisamos de amigos que participam da nossa história.
A Bíblia diz para não termos fé no ser humano, e sim, amá-lo. A fé nós temos em Deus. Amar o ser humano é ir contra a correnteza. A natureza humana odeia, não ama. O nosso papel como criação de Deus é levar as pessoas de volta para a humanidade, para o lugar onde os homens estão. Este caminho de retomada da humanidade é o caminho do serviço e da amizade. Deus faz ação social a vida toda. Então todo ato em favor do homem é um ato social. O sócio–ser deve fazer parte do nosso estilo de vida enquanto comunidade.
John Stott no seu livro Ouça o Espírito ouça o mundo afirma que é no amor que nos encontramos e nos realizamos. Além do mais, não é preciso ir muito longe para buscar a razão para isso. É porque Deus é amor em sua essência, de tal forma que quando ele nos criou à sua imagem ele nos deu a capacidade de amar assim como ele ama (STOTT, 1998, p. 60).
Viver é amar e sem amor murchamos e morremos. Sem o amor dos amigos nós definhamos e morremos. Agostinho dizia que alma onde ela ama, não onde ela exista.
O amor da união das almas é autodoador. A verdadeira liberdade no Reino de Deus é a liberdade para sermos nós mesmos, assim como Deus nos fez e como pretendia que fosse. Mas, o fato é que ele nos fez para amar e sermos amados. Amar é se dar e aí que mora a liberdade no Reino. Eu me dou e passo a ser livre do egoísmo e da soberba. A liberdade é de amar e de ser amado todos os dias por aqueles que são de Deus e nos doam a alma como Jônatas fez com Davi em termos de amizade.
Na perspectiva do Reino de Deus para sermos livres temos de servir e por isso. O nosso grande mestre afirmou que no seu Reino um serve o outro. Para viver em liberdade temos de morrer para o nosso próprio egocentrismo. E para nos encontrar conosco mesmos temos de nos dar em amor e amizades (STOTT, 1998, p. 60).
John Stott afirma:

“A verdadeira liberdade é, pois, exatamente o oposto do que muita gente pensa. Não é ser livre de toda a respon¬sabilidade que tenho para com Deus e os outros, a fim de viver para mim mesmo. Isto é ser escravo do meu próprio egocentrismo. Pelo contrário, a verdadeira liberdade é a libertação do meu tolo e diminuto ego, a fim de viver responsavelmente em amor a Deus e aos outros” (STOTT, 1998, p. 61).

Aristóteles dizia que na observação de um amigo é que chegamos a um verdadeiro conhecimento de nós mesmos. Para ele o amigo é um espelho. Ele diz que se quisermos ver nosso próprio rosto, temos que lançar um olhar no espelho; assim também se quisermos conhecer a nossa singularidade temos de olhar para um amigo (GRÜN, 2006, p.54).
Ao lado do nosso amigo experimentamos uma nova maneira de ser para que nos doemos mais. E assim entendamos a idéia do sócio-ser. E essa idéia passa pela atitude de morrer para o ego e se dar para o outro sem qualquer restrição. Aliás, quando falamos de entrega incondicional é inevitável não lembrar da amizade de Jônatas e Davi.
Jônatas e Davi evidenciam a realidade de doação para o outro. Jônatas presta ação social quando vai ajudar Davi no campo e espiritual quando o consola na dor. O texto de I Samuel 23.14 afirma que Davi ficou no deserto, em lugares fortes, permanecendo na região montanhosa no deserto de Zife. E Saul o buscava todos os dias, porém Deus não o entregou na sua mão. De repente, neste exílio no versículo dezesseis diz que se levantou Jônatas, filho de Saul, e foi ter com Davi em Hores e o confortou em Deus.
Vejam as palavras profundas de Jônatas para Davi no versículo 17: “E disse-lhe: Não temas; porque não te achará a mão de Saul, meu pai; porém tu reinarás sobre Israel, e eu serei contigo o segundo; o que também Saul, meu pai, bem sabe”.
Uma vez uma amiga me mandou esta frase:

“Amigos são tão amigos, que voltam. São tão fraternos, que se unem. São tão simples, que cativam. São tão desprendidos, que doam. São tão dignos, que amam, compreendem e perdoam”.

Como Deus é maravilhoso em nossa vida. Ele nos faz descobrir nos momentos de abandono, de frustração que ele cuida de nós com amor profundo e sempre manda um amigo leal que está disposto a ser solidário quando enfrentamos a solidão (versículo 16).
Descobrimos nos momentos de frustração que um amigo nos coloca no centro novamente, mesmo que isso signifique perda para ele (versículo 17) Vejam a mentoria da parte de Deus na vida de Davi. Através de Jônatas Deus faz Davi levantar a sua cabeça e olhar para frente. Olhem as afirmações animadoras de Jônatas:

1- Não temas; porque não te achará a mão de Saul, meu pai;
2- Tu reinarás sobre Israel,
3- Eu serei contigo o segundo; o que também Saul, meu pai, bem sabe.

Davi está no deserto sendo perseguido, foi traído pelos homens de Queila e no meio dessa frustração, vem através do instrumento de Deus palavras que recolocam Davi no caminho. É exatamente assim que Deus trata conosco. Através de amigos, ele demonstra ser o nosso Pai, o nosso amigo, a nossa casa e jamais deixa de viver conosco todos os momentos de nossa vida. E isso acontece no meio das frustrações e realizações da vida.
O texto continua e Deus mostra o quanto ama a Davi e não permite que Saul toque em sua vida quando tem-no nas suas mãos, o leva para En-Gedi, o lugar seguro (versículo 29).
Henri Nouwen diz algo profundo para nossa reflexão:

“A casa é o centro do meu ser, onde posso ouvir a voz que diz : Você é meu filho amado, sobre você ponho todo o meu carinho”  a mesma voz que deu vida ao primeiro Adão ; a mesma voz que fala a todos os filhos de Deus e que os liberta para viver no meio de um mundo sombrio embora permanecendo na luz. É a voz do amor que é eterno, perdura para sempre e se transforma em afeto quando ouvida. Quando a ouço, sei que estou em casa com Deus e nada tenho a temer. Como o filho amado de meu pai celestial, “ainda que eu caminhe por um vale tenebroso, nenhum mal temerei” (Salmo 23.4).Como filho amado posso interpelar, consolar, admoestar e encorajar sem medo de ser rejeitado ou necessidade de afirmação. Como o amado, posso sofrer perseguição sem desejo de vingança e receber cumprimentos sem precisar utilizá-los como prova de minha bondade. Como o amado, posso ser torturado e morto sem duvidar que o amor que me é transmitido é mais forte do que a morte. Como o amado, sou livre para viver e dar a vida, livre também para morrer enquanto estou dando” (NOUWEN, 1997, pp. 42, 43).

Só temos uma igreja relevante quando ela serve, quando ela se volta para a humanidade em amizade e compreensão.

Temos uma igreja relevante quando ela se envolve com a justiça, com os direitos humanos e com o cuidado dos pobres. Quando olhamos para Jesus percebemos que transformava prostitutas e as mandava de volta para a comunidade. Ele transformava um Zaqueu numa nova criatura, num filho de Abraão e o inseria para a comunidade.
Temos de invadir o mundo e mostrar um novo jeito de ser humanidade. Se não fizermos isto, perderemos a relevância na humanidade. Temos que ter discursos com vida, com coisas que tocam o coração através da amizade e fidelidade. A nossa relevância vai aparecer no ser sal da terra e luz do mundo de maneira amiga e fiel.
Augusto Cury no seu livro O Mestre da vida afirma que cada ser humano por mais anônimo que seja, possui uma história espetacular, mas não se dá conta disso. E isso acontece muitas vezes porque o ser humano que está ao lado não imita Jesus na consideração das pessoas e na amizade para com elas (CURY, 2006. p. 147).
Como precisamos aprender com Jesus o que significa servir as pessoas. Ele dava importância à história e conflitos de cada pessoa. Ele treinava a sensibilidade dos seus discípulos para que aprendessem a se doar como ele o fazia.
Todos queriam que Jesus estivesse no patamar mais alto do poder e da fama, mas ele procurava os doentes, aqueles que estavam deprimidos, ansiosos e fatigados pela vida. Nunca alguém como Jesus desenvolveu a mais fina arte da sensibilidade de amar e se dar pelas pessoas (CURY, 2006. p. 155).
Jesus ensinou aos seus discípulos a apreciarem o convívio com as pessoas, para serem capazes de analisar o comportamento e perceberem os sentimentos mais ocultos. E assim serem sábios e atraentes para com as pessoas no falar. Como precisamos dessa realidade na fidelidade da mentoria na amizade. O patrimônio da vida é conviver com as dores dos outros, isso com amor e graça semelhantes à de Jesus Cristo. Talvez uma voz que clama para nós quando se fala em amigos é Milton Nascimento com sua música que tem marcado todas as épocas. Na morte de Aírton Senna todo o Brasil refletiu nesta música:

“Amigo é coisa para se guardar debaixo de sete chaves. Dentro do coração assim falava à canção que na América ouviu, mas quem cantava chorou ao ver seu amigo partir. Mas, quem ficou no pensamento voou com seu canto que o outro lembrou e quem voou no pensamento ficou com a lembrança que o outro cantou. Amigo é coisa para se guardar no lado esquerdo do peito. Mesmo que o tempo e a distância digam não. Mesmo esquecendo a canção, o que importa é ouvir a voz do coração, pois, seja o que vier, venha o que vier, qualquer dia amigo eu volto a te encontrar, qualquer dia amigo a gente, vai se encontrar” (Milton Nascimento).

“Quanto mais cedo você fizer novos amigos, mais cedo terá velhos amigos” (Eric Berne).
Que a graça do eterno seja sobre nós!

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Sobre Casamento e Amor


"Não é bom que o homem esteja só
Far-lhe-ei uma companheira
que lhe seja suficiente".
Gênesis 2.18

Texto de EdRené Kivitz

Venho me perguntando o que faz as pessoas optarem pelo casamento se contam com outras alternativas para a vida a dois. A justificativa mais comum para o casamento é o amor. Mas devemos considerar que amor é uma experiência cuja definição está em xeque não apenas pela quantidade enorme de casais que ''já não se amam mais'', como também pelo número de pessoas que se amam, mas não conseguem viver juntas.

Talvez por estas duas razões - o amor eterno enquanto dura e o amor incompetente para a convivência - nossa sociedade providenciou uma alternativa para suprir a necessidade afetiva das pessoas: relacionamentos temporários em detrimento do modelo indissolúvel. Mas, mesmo assim, o número de pessoas que optam pelo casamento em sua forma tradicional, do tipo ''até que a morte vos separe'' cresce a cada dia.

Acredito que existe uma peça do quebra cabeça que pode dar sentido ao quadro. Trata-se da urgente necessidade de desmistificar este conceito de amor que serve de base para a vida a dois. Afinal de contas, o que é o amor conjugal? Para muitas pessoas, o amor conjugal é confundido com a paixão. Paixão é aquela sensação arrebatadora que nos faz girar por algum tempo ao redor de uma pessoa como se ela fosse o centro do universo e a única razão pela qual vale a pena viver. Esta paixão geralmente vem acompanhada de uma atração quase irresistível para o sexo, e não raras vezes se confunde com ela. Assim, palavras como amor, paixão e tesão acabam se fundindo e tornando-se quase sinônimas.

Este conceito de amor justifica afirmações do tipo ''sem amor nenhum casamento sobrevive'', ''sem paixão, nenhum relacionamento vale a pena'', ''é o sexo apaixonado que dá o tempero para o casamento''.

Minha impressão é que todas estas são premissas absolutamente irreais e falsas. Deus justificou a vida entre homem e mulher afirmando que não é bom estar só. Nesse sentido, casamento tem muito pouco a ver com paixão arrebatadora e sexo alucinante. Casamento tem a ver com parceria, amizade, companheirismo, e não com experiências de êxtase. Casamento tem a ver com um lugar para voltar ao final do dia, uma mesa posta para a comunhão, um ombro na tribulação, uma força no dia da adversidade, um encorajamento no caminho das dificuldades, um colo para descansar, um alguém com celebrar a vida, a alegria e as vitórias do dia-a-dia. Casamento tem a ver com a certeza da presença no dia do fracasso, e a mão estendida na noite de fraqueza e necessidade. Casamento tem a ver com ânimo, esperança, estímulo, valorização, dedicação desinteressada, solidariedade, soma de forças para construir um futuro satisfatório. Casamento tem a ver com a certeza de que existe alguém com quem podemos contar apesar de tudo e todos ... a certeza de que, na pior das hipóteses e quaisquer que sejam as peças que a vida possa nos pregar, sempre teremos alguém ao lado.

Nesse sentido, não é certo dizer que sem amor nenhum casamento sobrevive, mas sim que sem casamento nenhum amor sobrevive. Não é certo dizer que sem paixão, nenhum relacionamento vale a pena, mas sim que sem relacionamento nenhuma paixão vale a pena. Não é o sexo apaixonado que dá o tempero para a vida a dois, mas a vida a dois que dá o tempero para o sexo apaixonado. Uma coisa é transar com um corpo, outra é transar com uma pessoa. Quão mais valiosa a pessoa, mais prazeroso e intenso o sexo. Quão menos valorizada a pessoa, mais banal a transa.

Assim, creio que podemos resumir a vida a dois, entre homem e mulher, conforme idealizada por Deus, em três palavras que descrevem um casal bem sucedido...

Um casal bem sucedido é um par de amantes.
Um casal bem sucedido é um par de amigos.
Um casal bem sucedido é um par de aliados.

São três letras A que fornecem a base de uma relação duradoura. Amante se escreve com A. Amigo se escreve com A. Aliado se escreve com A. E não creio ser mera coincidência o fato de que todas as três, amante, amigo e aliado, se escrevem com A... A de AMOR.

http://www.guiame.com.br/m19.asp?cod_noticia=32432&cod_pagina=1686&titulo=Sobre-casamento-e-amor

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

A Paz de Deus Transcende as Circunstâncias

A paz de Deus não é uma negação da realidade. Ele deseja que enfrentemos a realidade com a nossa fé e com uma paz duradoura em nossos corações. A paz de Deus também não é uma fuga da realidade. A paz é um alicerce em rocha firme e não importam as lágrimas que derramemos ou a dor que sintamos, lá no fundo sabemos com uma segurança permanente que Deus está conosco...

A Paz de Deus Excede todo o Entendimento:

...A paz que nos é dada por Deus é algo que você não precisa necessariamente entender. Nem sempre conseguimos entender como ela opera em nossa vida.

...A paz de Deus opera em nós - ela opera em nós e nos está disponível — ela está muito além de nossa capacidade de compreendê-la.

A Paz de Deus Deve Ser um Estado de Espírito Permanente:

...Os problemas podem chegar repentinamente e nos pegar desprevenidos. A nossa resposta imediata pode ser o pânico, a ansiedade e o medo. A figura da paz, no entanto, nos dá rapidamente uma força que cresce em nosso interior [...] Essa força é o próprio Espírito Santo, que fala de paz ao coração humano, assegurando ao crente: “Estou aqui. Ainda estou no comando. Nada está além do meu poder ou me foge ao conhecimento. Eu estou contigo. Não temas”.

Os servos de Deus não estão imunes às circunstâncias difíceis ou perturbadoras. A promessa que eles têm é a de que o Espírito Santo estará sempre presente para lhes ajudar, de modo que um problema não precise arrancá-los de sua base ou lançá-los em um redemoinho. Um problema poderá ser apenas um ‘pico’ em sua vida. A paz - profunda, genuína, dada por Deus — poderá ser o padrão no qual você viverá o seu cotidiano.

Se você sente paz somente em situações ocasionais — por exemplo, somente nos finais de semana, nas férias ou em momentos de pausa em relação aos seus afazeres cotidianos — você está vivendo a sua vida de uma maneira diferente daquela que Deus pretendia.

A vontade de Deus é que você sinta uma paz permanente em todo o tempo, uma paz que inclui a alegria e um sentimento de propósito em todas as áreas de sua vida — com os períodos de ansiedade ou de frustração sendo os ‘picos’ que ocasionalmente nos atingem em tempos de crise.

É claro e simples: uma alma perturbada não é o padrão desejado por Deus para a sua vida, mas sim um coração ancorado na paz.

STANLEY, Charles. Paz: um maravilhoso presente de Deus para você. RJ:CPAD, 2004, p.34,33,37,40 e 41.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Relacionamentos: do ideal ao real.

Quando somos adolescentes, nossos relacionamentos são marcados pelos extremos: amamos com toda a nossa força e, também, odiamos com todo o nosso furor. Acreditamos que existem pessoas e instituições perfeitas, e assim começamos a criar ideais elevados de amizade, igreja e líderes espirituais.

Todavia, ao chegarmos à juventude, esse cenário começa a mudar do “idealizado fantasioso” para a “realidade latente”. Ou seja, o mundo das limitações humanas se descortina ante os nossos olhos e as decepções tornam- se parte do nosso dia-a-dia. Porém, devemos nos perguntar o seguinte: as pessoas nos decepcionaram ou nos decepcionamos com nossas próprias projeções fantasiosas sobre o outro?

Se ainda não compreendemos que todas as pessoas falham e continuarão falhando, nunca estaremos prontos a nos submeter e nem mesmo aptos para liderar. Nunca seremos capazes de enfrentar um relacionamento intenso como o casamento e nem mesmo preparados para experimentar uma amizade de verdade, pois ainda não adquirimos maturidade o suficiente e a humildade necessária para vermos que as falhas que as pessoas cometem contra nós, são as mesmas que cometemos contra elas.

A verdade é que somos misericordiosos para com os nossos próprios erros, mas extremamente intolerantes com os erros dos outros. Como bem disse o Reverendo Edson recentemente em um sermão: “quando eu falo o que penso, sou sincero; mas quando o outro fala, ele é grosso. Isto é, o defeito do outro é sempre uma qualidade em mim”. Talvez isso explique o porquê de muitas pessoas viverem solitárias e criando máximas, tais como: “quanto mais conheço as pessoas, mais eu amo os animais”.

Finalizando, em nossos relacionamentos nos é oportunizada a prática do que Cristo nos ensinou: “perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós também temos perdoado aos nossos devedores”. Ora, só aquele que é muito perdoado, muito pode perdoar; só aquele que compreende as suas próprias limitações é capaz de compreender as limitações do outro.

Irmãos, Deus nos chamou para perdoar mais e condenar menos.

“Rogo-vos,..., que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, procurando diligentemente guardar a unidade do Espírito no vínculo da paz”. (Efésios. 4.1-3).

“Reflexões sobre a morte e o morrer”


Todos os dias, sonhamos com grandes projetos, realizações e conquistas. Planejamos comprar a casa própria, o carro do momento, fazer uma faculdade que nos dê projeção e, é claro, casar com alguém muito especial.

No entanto, é interessante notar que sempre estamos nos preparando para um futuro totalmente incerto, mas nunca estamos preparados para aquilo que é inevitável, certeiro e determinado a todos nós: a morte.

Para o naturalista, a morte é a extinção da personalidade e da individualidade; para o existencialista, é o fim de tudo; todavia, para o cristão, é a porta de entrada para a vida eterna com Deus. Apesar disso, quando alguém querido está em profundas dores no hospital, não pensamos duas vezes em pedir a Deus que o cure.

Aliás, nessas horas, nem passa pelas nossas mentes limitadas que o plano de Deus seja conduzir o moribundo à Eternidade. Para alguns, isso pode parecer falta de fé! Mas quem disse que aqui é o melhor lugar para se estar? Então, às vezes, tenho a impressão de que somos existencialistas e naturalistas na prática e cristãos na teoria.

Certa vez, quando estudava no colégio Instituto Metodista de Petrópolis, a professora de religião veio nos contar que um dos nossos colegas havia falecido naquela manhã. Ela repetiu as últimas palavras dele a sua mãe: “Mãe, não chore, não! Eu estou indo me encontrar com Jesus”. Começou a cantar um hino de adoração e expirou.

Há algum tempo, minha mãe me ligou, para me avisar que o Bispo da Igreja Metodista Wesleyana havia falecido. Antes da sua partida, muitos o visitaram para consolá-lo, não obstante eram eles que saíam consolados e abençoados. Cantando hinos e dizendo que estava indo se encontrar com Jesus, partiu gloriosamente.

Recentemente, o pai de um amigo de seminário faleceu. Um homem exemplar. Missionário há mais de 40 anos. Uma vida dedicada às coisas do alto. Antes de sua partida, ele falou para sua esposa o seguinte: “sonhei essa noite que Jesus vinha me buscar. Ele é lindo!”.

Nessas experiências de morte, percebi que o mais importante não é quantos anos vivemos ou de que forma morremos – acidente, doença ou morte natural. Mas, sim, como vivemos, para que vivemos e para quem vivemos.

William Wallace, certa vez, disse: “todo homem morre, mas nem todo homem vive”. O apóstolo Paulo, no entanto, foi muito mais além ao nos apresentar uma causa maior: “... se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. De sorte que, quer vivamos quer morramos, somos do Senhor”. (Romanos 14.08).

Estejamos sempre VIVOS e que Deus nos abençoe!

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

A Igreja do Século XXI: Satisfação, Consumo e Felicidade.


Todos os dias, a fim de nos fazer consumir, os meios de comunicação descortinam ante os nossos olhos um pomposo espetáculo. Os produtores artísticos desse show arquitetam cuidadosamente formas atraentes, embalagens apelativas e frases de impacto que visam nos seduzir completamente.

Então, pergunto-me todos os dias: será que tudo aquilo que se compra e se vende é de real importância para a minha sobrevivência? Preciso de toda essa pompa? Tenho certeza que não!

Todavia, a Pós-Modernidade traz em seu bojo as frustrações de uma Era passada. O homem precisa de algo para preencher o seu vazio existencial e encontrou refrigério no consumismo. Assim, aos poucos, nossas mentes são reprogramadas com os seguintes lemas: ter é melhor que ser, comprar é poder e a aparência vale mais que a essência.

Como conseqüência, vê-se emergir em nosso meio a "Igreja da Felicidade". O seu deus jamais diz não, pois teme entristecer os seus. A sua doutrina é culturalmente aceitável - capitalista e hedonista. Seus líderes pregam a satisfação pessoal como o fim último do viver de um crente. Nesse fogo cruzado, o jovem é atacado com ofertas freqüentes e estimulado a todo instante a ter agora, e pagar depois.

Talvez, isso explique o resultado de algumas pesquisas recentes, mostrando que dos cheques sem fundos que existem hoje no país, 47% têm a assinatura de alguém com menos de 30 anos.

A verdadeira satisfação não é poder comprar, mas desfrutar na íntegra o que Deus nos deu de graça: vida plena no meio de um mundo desértico.

Tomemos o velho conselho dado a um jovem de Deus: "Porque nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele. Tendo sustento e com que nos vestir estejamos contentes" (1Tm. 6.6-8).

Que Deus nos abençoe!